Frases como “reumatismo é doença de idoso” ou “doenças reumatológicas só ocorrem em velhos” são frequentemente pronunciadas, transmitindo um conceito errôneo. Desde o surgimento da Reumatologia Pediátrica na Europa, na década de 40, quando se atentou para a presença de determinadas doenças reumatológicas também em crianças, até o reconhecimento desta especialidade pela Sociedade Brasileira de Pediatria em 1984, muito se evoluiu no conhecimento das doenças reumatológicas que afetam crianças, desde recém-nascidos até adolescentes.
Isso proporcionou a estes pacientes a possibilidade de um diagnóstico precoce, acompanhamento específico, tratamento adequado, evolução sem sequelas e melhoria na qualidade de vida. As crianças e adolescentes portadores de doenças reumatológicas devem ser avaliados com um enfoque diferente dos adultos, devido às várias mudanças nos seus organismos, resultantes dos constantes processos de crescimento e desenvolvimento físico e psíquico.Crianças acometidas de doenças reumatológicas, muitas vezes crônicas e debilitantes, terão manifestações clínicas variadas, devido às diferentes fases cronológicas da vida, como também na duração da doença e nas sequelas que possam ocorrer. Os cuidados médicos dispensados a eles dependem de uma associação da compreensão pediátrica com o entendimento reumatológico.
Certas doenças reumatológicas pediátricas podem ter longa duração e causar sequelas, como na artrite idiopática juvenil (também conhecida como artrite reumatóide juvenil) acometendo articulações em quantidades e gravidades variadas, com dor, inchaço e rigidez, comprometendo as cartilagens de crescimento, provocando atrofias musculares, deficiências das funções dos segmentos do corpo afetados, inadequação da ingestão de nutrientes, inatividade, limitação no desenvolvimento do peso e da estatura, além de importantes alterações psicológicas.
Muitas outras doenças também são tratadas pelo reumatologista pediátrico: febre reumática, vasculites, dores de crescimento, artrites infecciosas e pósinfecciosas, sinovites, tendinites, dores em membros de diversas origens e outras várias enfermidades.
As doenças crônicas, como a artrite idiopática juvenil, o lúpus eritemaroso sistêmico, a dermatopolimiosite, a esclerodermia e as vasculites, apresentam alto grau de inflamação das estruturas afetadas, por alteração dos mecanismos imunológicos – sendo conhecidas por doenças auto-imunes – exigindo tratamentos com medicamentos que, embora possuam importantes efeitos colaterais, são necessários para evitar complicações clínicas futuras.
Em associação ao tratamento medicamentoso, muitas vezes necessita-se do acompanhamento de outras especialidades médicas (ortopedia, fisiatria, neurologia, nefrologia, cardiologia, dermatologia etc) e de outros profissionais, como o fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, nutricionista, dentista etc.
Quando uma criança ou adolescente devem ser encaminhados ao reumatologista pediátrico?
Sempre que uma ou mais queixas ou sintomas listados abaixo estiverem presentes:
• Aparecimento de maneira inexplicável e prolongada de febre, fraqueza, perda de apetite, anemia, fadiga, dores em um ou mais membros, vermelhidão ou manchas roxas na pele.
• Dor, inchaço, calor e vermelhidão em uma ou mais articulações, dificuldades para iniciar movimentos articulares logo pela manhã e dores recorrentes nas costas. • Dor, vermelhidão, ardência ou sensação de “estar com areia” nos olhos.
• Limitação da funcionalidade: necessitar de auxílio de outra pessoa para realizar tarefas habituais como se sentar, deitar, levantar, andar, escrever, subir e descer escadas.
• “Tiques nervosos” ou movimentos involuntários dos membros e/ou cabeça, de aparecimento súbito.
• Testes laboratoriais reumatológicos alterados. O retardo no encaminhamento destas crianças e adolescentes ao especialista resultará nos atrasos do diagnóstico, tratamento, acompanhamento e, sobretudo, da prevenção de danos permanentes que podem ser evitados.
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