A palavra lúpus, em latim, significa “lobo”. Há muitos anos, uma doença caracterizada pela inflamação da pele, principalmente nas áreas expostas ao sol (como a face, por exemplo), foi denominada de lúpus pela semelhança das feridas na face com a mordedura de um lobo, ou ainda, devido à expressão retraída da face, lembrando o animal em situação de ataque. Essas lesões são conhecidas como “lesões em asa de borboleta” (a borboleta é o símbolo internacional da doença).
Há mais de cem anos, Kaposi descreveu manifestações de inflamação, além da pele, em órgãos internos como os rins, pulmões, coração, nervos, articulações, etc. A doença caracteriza-se pela disfunção do sistema imunológico com consequente formação de anticorpos contra proteínas próprias (autoanticorpos), que agridem o organismo, levando à inflamação da região ou órgão afetado. Embora de causa desconhecida, hoje sabemos que essa disfunção imunológica (doença autoimune) ocorre em uma pessoa geneticamente predisposta que, exposta a um agente agressor (luz solar, infecção viral, condições de desequilíbrio hormonal, certos medicamentos, etc.), passa a produzir anticorpos que, em vez de protegê-lo, atuam contra o próprio organismo, causando inflamação.
A doença ocorre preferencialmente em mulheres na idade fértil, na proporção de dez mulheres para cada homem na mesma faixa etária.
Nas crianças e nos idosos, a frequência é menor e a proporção é de três mulheres para cada homem. A incidência da doença varia de três a sete casos novos para cada 100 mil habitantes. Estima-se que em determinadas regiões exista cerca de um caso de lúpus para cada mil habitantes. Se essa estimativa fosse projetada para o Brasil, teríamos um contingente de aproximadamente 250 mil casos.
O envolvimento dos órgãos internos varia muito de paciente a paciente. Alguns casos têm apenas quadros leves na pele e articulações. Já outros podem ter envolvimento de órgãos mais nobres, como coração, cérebro ou rins, limitando a qualidade de vida e a sobrevida, se não tratado adequada e precocemente.
Os sintomas iniciais geralmente são lesões de pele, principalmente após exposição solar (fotossensibilidade), dores e/ou inflamação nas articulações, fraqueza, ocorrência frequente de febre e mal-estar. Com esses sintomas, é extremamente importante procurar um médico para um diagnóstico precoce e tratamento adequado, caso a doença seja confirmada.
O tratamento do lúpus vem se aprimorando muito nas últimas décadas. Com isso, a sobrevida aumentou consideravelmente.
Embora não haja cura, com o tratamento adequado, a qualidade de vida permanece muito satisfatória e o paciente pode, com a doença controlada, ter uma vida normal, com alguns cuidados para não haver recidiva.
Embora os corticoides sejam a base do tratamento, o uso de modernos agentes que diminuem a imunidade (imunossupressores) faz que doses cada vez mais baixas sejam usadas e até mesmo suspensas nas fases de remissão. Uma série de medicamentos novos está sendo estudada para melhorar o tratamento do lúpus e, em breve, seguramente chegaremos ao seu agente desencadeador, saberemos individualizar o tratamento de acordo com a característica genética de cada paciente, nos aproximando cada vez mais da sua cura.
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