A prevenção da dengue em Belo Horizonte deve ganhar novo rumo nos próximos anos. Um estudo que analisou vetores da dengue em três regiões de Belo Horizonte constatou que larvas do mosquito Aedes aegypti estão sendo infectadas simultaneamente com dois sorotipos do vírus.
Isso implica em maiores riscos das pessoas se contaminarem por mais de uma vez pela doença, na avaliação do médico José Eduardo Marques Pessanha, autor da tese defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG.
" Em determinadas regiões já coexistem ao menos dois sorotipos da doença" , alerta Pessanha. Ele também avisa que ao ser infectado por um dos tipos virais da dengue, o paciente fica imunizado apenas ao sorotipo com o qual teve contato.
Segundo o pesquisador, a descoberta é de extrema relevância no planejamento de estratégias preventivas. " Uma das hipóteses de ocorrência de casos mais graves da doença está relacionada a uma segunda infecção, independentemente do tipo viral em questão" , alerta.
A saída, infelizmente não é mágica. Exige vigilância constante para reduzir a população do mosquito da dengue e a consequente diminuição da incidência da doença e dos óbitos entre a população que adoece.
Registro de casos
Belo Horizonte apresenta uma sensibilidade de reconhecimento da dengue melhor do que o padrão mundial de notificação da doença. A capital mineira apresenta uma relação de (3:1) três ocorrências sem notificação para cada episódio diagnosticado.
A estimativa encontrada na literatura científica é de (10:1) dez casos não conhecidos para cada notificado.
Pessanha destaca que este resultado positivo é fruto da busca ativa de novos casos, possível pela ampliação das fontes de notificação. " Antes, esta informação era procedente principalmente das unidades de saúde da rede pública. Atualmente laboratórios e consultórios médicos particulares notificam os casos suspeitos da doença de forma mais regular" , afirma.
Essa medida acarreta em prevenção e vigilância mais eficazes. " Conhecendo as áreas em que houve maior incidência de contaminação, é possível canalizar esforços para evitar que uma nova epidemia aconteça nestas regiões" , conclui Eduardo Pessanha.
A tese
Apresentada na forma de três artigos, a tese teve como objetivo principal permitir a compreensão da situação da dengue em Belo Horizonte. Isso foi feito por meio de inquérito populacional aleatório, em três Regiões (Centro-Sul, Leste e Venda Nova), entre 2006-2007, com detecção de anticorpos para os sorotipos circulantes do vírus.
Como complemento foi feita uma avaliação do Programa Nacional do Controle da Dengue e um estudo da ocorrência de vírus em vetores coletados na natureza. A avaliação do Programa Nacional do Controle da Dengue apontou dificuldades relacionadas ao cumprimento das metas do Programa, com resultados abaixo do esperado e indícios de agravamento do problema.
A pesquisa sugere que novos estudos sejam desenvolvidos para aprofundar o conhecimento sobre a associação entre a incidência do dengue em micro-áreas urbanas. Também recomenda que programas de controle de vetores e de assistência ao paciente devam considerar e atender as particularidades localizadas nos grupos mais expostos.
"É necessário que sejam feitos novos estudos de qualidade de vida urbana e o mapeamento de áreas de risco para orientar estratégias de prevenção e assistência adequadas ao contexto das diferentes áreas da cidade" , avisa. Para alcançar a integralidade das ações de atenção à saúde, necessária a um bom desempenho das investigações e das medidas de prevenção e controle do dengue é importante a análise permanente das complexidades e singularidades das comunidades.
" Antes da adoção de estratégias de educação e de incentivo às mudanças comportamentais relacionadas à saúde coletiva sempre se deve considerar o conjunto e as particularidades das características de cada comunidade" , afirma Eduardo Pessanha.
0 comentários:
Postar um comentário